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Como o celular vicia o nosso cérebro?

Uma experiência moderna compartilhada por quase todo mundo pode ser descrita assim: você está um pouco à toa e resolve começar a mexer no seu smartphone. Entra em uma rede social e fica rolando até a tela para baixo, em busca de algo interessante para ver. Quando se dá conta, uma hora já se passou, embora sua ideia fosse só "dar uma olhadinha".


Se isso soou familiar a você, saiba que não está sozinho, pois tem acontecido com todo mundo. E a explicação este fenômeno está no funcionamento do seu cérebro.


A importância do design das redes sociais


Talvez você não tenha notado, mas o design das redes sociais e plataformas que usamos foi mudando de acordo com o tempo. Desde o surgimento dos blogs (em que os conteúdos mais novos ficavam sempre no topo), as interfaces foram sendo estudadas e alteradas para gerar cada vez mais engajamento.


Algumas das redes sociais mais viciantes (como Instagram e TikTok) funcionam por meio de uma barra de rolagem infinita que sempre vai entregando conteúdos novos definidos por algoritmos. Isso não é por acaso.


Éilish Duke, professora de psicologia na Universidade Leeds Beckett, no Reino Unido, afirma que o impulso de ficar rolando a tela sem parar se torna automático.


"Em uma pesquisa que fizemos há alguns anos, descobrimos que os participantes achavam que verificavam seus telefones a cada 18 minutos, mas quando usamos gravadores de tela, percebemos que, na verdade, eles verificavam (o celular) com muito mais frequência", declarou em reportagem da BBC.

Assim, o nosso hábito constante de mexer na tela é uma união de funções do nosso cérebro com um design sofisticado. O que experimentamos é uma reação nos centros neurais do cérebro ligados ao prazer, semelhante ao que acontece durante o sexo ou no consumo de drogas. "(Nossos cérebros) estão buscando aquela novidade, aquela próxima dose de prazer, seja lá o que for que possamos realmente desfrutar", explica Duke.


Deste modo, é possível dizer o que mecanismo é parecido com o de um vício como o de álcool: ficamos esperando que a sensação se repita. "Para muitos de nós, essa novidade vem na forma do nosso telefone", arremata a


Como lidar com o vício em celular?



De acordo com a psicologia, segundo Éilish Duke, o que acontece quando rolamos a tela de celular é que entramos num estado de fluxo, que significa um estado mental em que a nossa dificuldade para executar uma tarefa se ajusta ao nível de atenção e habilidade que temos para oferecer neste determinado momento.


Aos poucos, nosso cérebro vai sendo "treinado" para isso, levando à dependência. Embora não haja ainda uma categorização psiquiátrica oficial, a medicina já começa a discutir a possibilidade do diagnóstico de um vício.


"Nos baseamos nos critérios clássicos de diagnóstico de dependências, como de que existe um impulso incontrolável ou que o comportamento está tendo um impacto funcional negativo no resto da vida da pessoa; por exemplo, que ela está deixando de fazer as coisas que precisa fazer no dia a dia ou apresenta sintomas de abstinência", explica Duke.

Por isso, caso você sinta que está adquirindo essa compulsão e não consegue parar de rolar a tela do celular, há algumas orientações. Segundo a professora Ariane Ling, do departamento de psiquiatria do NYU Langone Health, nos Estados Unidos, é preciso condicionar aos poucos o cérebro para se afastar do celular.


Uma dica é criar certos rituais para se afastar do smartphone. Ela sugere, por exemplo, hábitos simples, como ir fazer exercícios sem levar o celular junto. "Sempre que você puder deixar o telefone (em casa) e dar um tempo, seja para uma dar uma caminhada ou para ir à academia, é excelente", concorda Duke.


Para as pesquisadoras, isso ajuda o cérebro a voltar a se acostumar a não usar o aparelho. Outros hábitos são também úteis, como criar a regra de não usar o celular na mesa quando estiver com amigos.


"Se você puder reservar períodos de tempo em que não vai usar o telefone — mas, sim, se concentrar em uma tarefa ou apenas estar presente com os amigos – é uma boa ideia", afirma Duke.

Outra sugestão dada pelas pesquisadoras é usar relógio de pulso, ao invés de olhar as horas no celular. "Em um dos estudos que fizemos há alguns anos, vimos uma grande diferença entre as pessoas que usavam relógios normais, e aquelas que usavam o celular para ver a hora", compartilha Duke. Pegar o celular para ver as horas é se colocar na situação de "risco" de, mais uma vez, começar a navegar nas redes.

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